5 de julho de 2013

Casa Estefan Zweig (Petrópolis - RJ)



"Hoje nos mudamos, felizes. É uma casa minúscula, mas com um amplo terraço coberto e uma bela vista, um pouco fresca agora no inverno, e o local é tão maravilhosamente deserto como Ischl em outubro e novembro. Finalmente, um lugar para descansar durante alguns meses, e as malas serão guardados para não serem mais vistas durante longo tempo. -  Stefan Zweig em carta para a primeira mulher, Friderike, 17 de setembro de 1941"
No dia 28 de novembro de 1881 nascia um dos grandes escritores austríacos de origem judaica, Stefan Zweig, exilou-se no Brasil durante a 2º Guerra Mundial. Nesse vai-e-vem Zweig encontrou na serra, mas especificamente em Petrópolis, o "exílio" junto com sua segunda esposa Lotte. Um refúgio por mais ou menos 5 meses.
  
O mundo estava em mudanças e autodestruição. O nazismo dominava a Alemanha, perseguição aos judeus e a ditadura de Getúlio Vargas não prosseguia com apoio aos refugiados. Planos, projetos e amigos falharam e Estefan Zweig isolado e sem esperanças a humanidade. Resultado:
 na noite de 22 para 23 de fevereiro de 1942, tornou-se o fim da linha pro casal, com uma dose fatal de barbitúricos (um ácido forte que ataca diretamente nos nervos centrais).
Lá ele finalizou sua autobiografia, "O Mundo que Eu Vi"; escreveu a novela "O Jogador de Xadrez" e deu início à obra "O Mundo de Ontem", um trabalho autobiográfico com uma descrição da Europa de antes de 1914.
Depois da morte, a casa foi habitada por outros e nos anos 80 a ideia de museu-biográfico se concretizou, anos depois foi reformada sem apoio nenhum do governo brasileiro, sim ela nasceu de iniciativa privada de seus amigos e admiradores além dos governos da Alemanha e da Áustria. Além disso é um Memorial do Exílio, uma homenagem aos amigos: exilados, emigrados e refugiados do terror da guerra.

Ao subir as escadarias nos deparamos com o jardim, onde incluíram um tabuleiro de xadrez, lembrando-nos do hobbie preferido de Estefan, é aberto ao público aos que quiserem se aventurar ao enigma preto e branco.
A varanda, com uma bela vista, hoje cercado com estradas, carros e comércio, pouco verde e nada de silêncio.




O grande salão com vários livros escritos e lidos por ele. Um acervo simples, ao grau de importância do escritor, entretanto com bastante conteúdo. Vídeos multimídias e um telão contando o resumo de sua vida, revistas, e até mesmo um rosto real modelado em gesso. E uma cópia do famoso livro que auxiliou um novo olhar ao Brasil: "Brasil, país do futuro". Biografias feita por outros autores, e acervo de objetos pessoais.

 

 



 

O único local preservado ao mesmo estilo é o quarto onde cometeu suicídio, não existe nenhuma simulação. Mas ao fim de tudo aquilo que leu e ouviu pela museu, aquela sala reflete muito mais que tudo. Um banco, uma janela e uma carta: o fim da vida, mas o começo de uma vida memorável e eterna.


A carta de despedida:
"DECLARAÇÃO
Antes de deixar a vida por vontade própria e livre, com minha mente lúcida, imponho-me última obrigação; dar um carinhoso agradecimento a este maravilhoso país que é o Brasil, que me propiciou, a mim e a meu trabalho, tão gentil e hospitaleira guarida. A cada dia aprendi a amar este país mais e mais e em parte alguma poderia eu reconstruir minha vida, agora que o mundo de minha língua está perdido e o meu lar espiritual, a Europa, autodestruído. Depois de 60 anos são necessárias forças incomuns para começar tudo de novo. Aquelas que possuo foram exauridas nestes longos anos de desamparadas peregrinações. Assim, em boa hora e conduta ereta, achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a Terra. Saúdo todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite.
Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.
Stefan Zweig"



Aos fundos, incluíram banheiros e mantiveram o jardim com um poço. Possivelmente terá mais instalações em breve, ao que parece será incluído também uma biblioteca.

Stefan Zweig vive!

 
   
  
 

 Canto dos Exilados 

Keller, Wilhelm (Willy) 
Adler, Johann Anton 
Adlerova, Charlotta 
Agache, Hubert Donat Alfred
Altberg, Alexandre
Andrian-Werburg, Leopold von 
Arany, Oscar
Arcade, Bruno 
Arnau, Frank 
Ascarelli, Tulio
Bach, Susanne Eisenberg
Ballhausen, Günther 
Becher, Ulrich 
Benton, José Antonio (Hans Elsas)
Bernanos, George
Blumental, Felicja
Bresslau-Hoff, Louise 
Brieger, Friedrich Gustav 
Brill, Marte 
Caro, Herbert Moritz 
Carpeaux, Otto Maria
Chabloz, Jean-Pierre 
Choromanski. Michal
Czapski
de Fiori, Ernesto
 Feder, Ernst 
Feigl, Fritz
Flexor, Samson 
Flieg, Hans Günter
Flusser, Vilém
Fried, Carl 
Gartenberg, Alfred
Guarnieri, Gianfrancesco
Görgen, Hermann Matthias 
Heller, Frederico
Heller, Otto
Jolles, Heinz (Henry) 
Kaminagai, Tadashi
Katz, Richard
Koellreutter, Hans-Joachim
Korène, Vera
Krajcberg, Frans 
Krajcberg, Frans
Lemle, Heinrich
Leskoschek, Axel
Lewinsohn, Richard
Lieblich, Karl
Lustig-Prean, Karl von 
Manzon, Jean
 Marcus, Ernst 
Markus, David
Mehlich, Ernst 
Métall, Rudolf Aladár 
Mizne, Markus
Mortara, Giorgio
Oliven, Fritz
Ornstein, Oskar
Ostrower, Fayga 
Pinkuss, Fritz
Rawitscher, Felix 
Roger van Rogger (Roger Silberfeld)
Rónai, Paulo
Rosenfeld, Anatol
Stern, Hans
Straus, Agi 
Szenes, Arpad
Szenkar, Eugen
Trebitsch, Regina 
Tuwim, Julian
Wolff, Egon e Frieda 
Wöller, Wilhelm
Zach, Jan
Zamoyski, August


 


Pressentimento
 Stefan Zweig

As horas dançam com langor
Sobre os cabelos cinza-prata;
Só quando a taça é esvaziada,
O fundo de ouro mostra a cor.
Sentir tão perto o mais profundo
Dos sonos não transtorna… acalma.
Só quem já sossegou a alma
Contempla satisfeito o mundo.
Do que alcançou não mais duvida;
Não mais lamenta o que perdeu.
Sabe que envelhecer é seu
Caminho para a despedida.
Na derradeira luz do dia
É que a paisagem se libera;
E o homem ama a vida à vera
Quando, no escuro, a renuncia.

Trad. André Vallias

Vorgefühl


Linder schwebt der Stunden Reigen

Über schon ergrautem Haar,

Denn erst an des Bechers Neigen

Wird der Grund, der goldne, klar.
Vorgefühl des nahen Nachtens,

Es verstört nicht... es entschwert.

Reine Lust des Weltbetrachtens

Kennt nur, wer nicht mehr begehrt,
Nicht mehr fragt, was er erreichte,

Nicht mehr klagt, was er gemißt,

Und dem Altern nur der leichte

Anfang seines Abschieds ist.
Niemals glänzt der Ausblick freier,

Als im Glast des Scheidelichts,

Nie liebt man das Leben treuer

Als im Schatten des Verzichts.
28.11.1941

Nota: poema escrito em Petrópolis,
por ocasião de seu sexagésimo aniversário


 


Visitação:

Rua Gonçalves Dias, 34
Bairro: Valparaíso
 Petrópolis, Rio de Janeiro
 sexta, sábado e domingo das 11 às 17h
ou por agendamento: tel.: (24) 2245-4316
contato@casastefanzweig.org

*Entrada GRÀTIS até o presente momento


´
(Trailer do filme Lost Zweig, dirigido por Sylvio Back baseado na obra de Alberto Dines, "Morte no paraíso, a tragédia de Stefan Zweig")

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